O desenvolvimento de novas tecnologias é responsável por mudanças radicais na sociedade, em todos os setores. No caso da mobilidade urbana, a transformação é visível nos últimos anos. As grandes cidades foram tomadas por motoristas de aplicativos como Uber e 99, entre outros. Surgiram também as bicicletas e os patinetes elétricos, no modelo da economia compartilhada. Em breve, teremos taxis voadores e veículos autônomos nos principais centros urbanos.
No entanto, enquanto estes serviços ainda são uma novidade, é difícil prever se esses impactos na sociedade serão positivos ou negativos. Segundo Jason Jackson, professor de planejamento urbano do MIT (Massachusetts Institute of Technology), o poder público é responsável por garantir que estas transformações mirem o bem social. “Governo e empresas precisam trabalhar juntos de forma a promover a diminuição da desigualdade espacial com iniciativas de transporte”, afirma o especialista durante o evento The Future Of Work, que aconteceu em São Paulo na última quinta-feira (29).
“Desigualdade não existe apenas em uma questão econômica, mas também em uma questão espacial”, explica Jackson. “Na América Latina, é comum que os centros sejam mais ricos, enquanto as periferias são onde moram as pessoas mais pobres, que estão mais longe do trabalho”. Neste sentido, iniciativas que ficam restritas aos centros comerciais ou ainda cuja precificação seja baseada apenas na distância percorrida promovem, ainda que sem intenção, o aumento da desigualdade social.
Para o professor, a cidade de São Paulo tem uma regulação baseada em dados coletados pelos apps que “é a mais complexa e interessante do mundo”. Desde 2017, o poder público definiu incentivos financeiros para que os aplicativos de mobilidade tenham impacto positivo na sociedade.
Há desconto em tarifas cobradas sobre as empresas em diversos casos. Carros híbridos, veículos acessíveis para deficientes físicos e motoristas mulheres recebem 10% de redução das taxas. Quilômetros rodados fora dos centros urbanos e entre às 20h e 22h (fora do horário principal de congestionamento) ganham 50%. A distância percorrida entre 10h e 17h (entre os momentos de maior tráfego) e em domingos e feriados pagam 70% a menos.
Embora seja comum que a taxação crie barreiras para o empreendedorismo, neste caso há uma regulação propositiva, que busca recompensar boas práticas de mobilidade para a cidade como um todo. Isto não exclui, tampouco, a possibilidade das próprias empresas se mobilizarem em prol da diminuição da desigualdade social. É o caso da Grow, por exemplo, que busca ampliar a presença das bicicletas compartilhadas na periferia de São Paulo com valor reduzido. Ou também da Lady Driver, que emprega apenas motoristas mulheres em sua frota.
A questão do trabalho, que foi o tema principal do evento do MIT em São Paulo, está relacionada aos aplicativos de mobilidade. Jackson mostra como os apps cresceram em momentos de alta no desemprego: Uber e Lyft despontaram nos EUA depois da crise de 2008 e, no Brasil, os aplicativos cresceram rapidamente a partir de 2014.
Naturalmente, com menos empregos, as pessoas recorrem com maior frequência a atividades criadas pela nova economia, como é o caso do motorista de aplicativo. Se, por um lado, estes serviços garantam no mínimo uma subsistência a muitas pessoas, por outro, criam uma nova classe que não se encaixa exatamente em nenhuma categoria trabalhista.
“A realidade em diversas cidades é que os ganhos e a qualidade do trabalho dos motoristas de aplicativos são precários”, analisa Jackson. Por este motivo, o professor do MIT ressalta a necessidade de uma regulação que torne esta prática mais rentável e justa, mas sem criar barreiras para a contratação dos motoristas.
“A economia compartilhada transforma ativos subutilizados em lucrativos”, explica o professor. Ele cita uma pesquisa que constata que, em média, carros estão em movimento durante apenas 4% do tempo. Com os aplicativos, estes ativos tornam-se muito mais rentáveis, ajudando a movimentar a economia como um todo.
Fonte: https://www.startse.com/noticia/nova-economia/mobilidade-desigualdade-social